De uma série que se inicia: “O Brasil que eu quero”.

Para a revista “Veja” (ou Época”, “Isto É”, “Carta Capital”, etc) sugestão número 1.

Por que não fazer uma reportagem especial, com uma avaliação das principais escolas de primeiro e segundo grau em cada estado brasileiro?

Valorizar a educação

Os melhores sistemas educacionais do mundo são aquelas cujas culturas valorizam a educação. Não se trata apenas de uma questão de política pública. Numa cultura que valoriza a educação, todos valorizam a educação; não apenas o governo (federal, estadual e municipal), mas também a iniciativa privada, as instituições, a igreja, as próprias entidades educacionais, as famílias, a opinião pública.

No Brasil, o que se pode fazer? Ao invés de simplesmente delegar para cima, pondo a culpa na Dilma (ou na Presidente de plantão) , podemos começar a tomar iniciativas que valorizam a educação de boa qualidade. Uma dessas iniciativas pode ser uma avaliação comparativa das melhores escolas, servindo de guia para os pais e estimulando uma competição sadia entre diferentes instituições de ensino.

As revistas “Exame”, “Forbes”, Época Negócios”, fazem isso em relação às empresas comerciais, com edições especiais que comemoram, anualmente, as “500 Maiores e Melhores”. Por que não fazer o mesmo em relação às escolas?

Na Holanda, por exemplo, a revista “Elsevier” faz isso todos os anos. Acaba de sair a reportagem especial de 2014, sobre as melhores escolas avaliadas no decorrer do ano anterior. É o sétimo ano seguido em que isto é feito e a reportagem tem trinta páginas, listando milhares de escolas, em cada região do país, com escores em diferentes critérios, tais como: alunos egressos que passaram nos exames finais, alunos que ingressaram na universidade, proporção de alunos para cada professor, tipo de orientação pedagógica de cada escola, etc.

No Brasil, o público em geral tem uma tolerância muito grande para o baixo nível de qualidade das nossas escolas. Precisamos mudar isso, exigindo mais das escolas e estimulando aquelas poucas que se esforçam por melhorar.

A educação de base é mais importante

Alguém pode dizer, como crítica e mal-disfarçada desculpa para a inação, que no Brasil o MEC já faz isso avaliando os cursos superiores. Existem dois problemas fundamentais com esse argumento.

Em primeiro lugar está o fato de a avaliação das universidades ser feita pelo MEC e não por uma revista de grande circulação. Ninguém lê os relatórios do MEC, mas todo mundo lê a Veja. É claro que estou exagerando, mas o ponto é que uma reportagem numa revista tem muito mais impacto junto à opinião pública do que um relatório oficial. As grandes revistas são formadoras de opinião, ainda mais no Brasil.

Em segundo lugar está o fato de que as pesquisas mostram que uma educação de base com boa qualidade é mais importante para o bem-estar econômico de um país do que a educação superior (universitária). Ocorre que, tipicamente, culturas de alta distância de poder (como o Brasil) investem proporcionalmente mais no ensino superior do que culturas igualitárias. Nas culturas de baixa distância de poder (igualitárias) se investe mais na educação de primeiro e segundo grau e isso repercute na economia de forma positiva. Vide os EUA e o norte da Europa.

Na Holanda, os milhares de leitores da Elsevier usam a reportagem anual sobre as escolas para dirigir suas escolhas de escolas; e as escolas se esforçam para melhorar seus escores a cada ano. A reportagem inclui uma seção apontando as que mais melhoraram e as que mais pioraram de um ano para o outro.

Formadores de Opinião

A imprensa brasileira, o nosso “Quarto Poder” pode fazer o que os outros três (Legislativo, Executivo e Judiciário) não conseguem: estimular a qualidade da educação de nossas crianças e adolescentes. É claro que um estudo dessa natureza não deve custar pouco dinheiro; todavia, imagino que não faltariam patrocinadores que gostariam de ver seus nomes ligados a uma iniciativa desse tipo. Isso dá mais credibilidade do que o patrocínio de luta-livre na televisão…

Com a palavra, nossos órgãos de imprensa: vamos fazer algo moralmente elogiável para valorizar o debate sobre a qualidade da educação de base no Brasil?