Agradeço à amiga Marly Siqueira por me mandar o link de uma palestra do Manuel Castels, sociólogo espanhol: https://www.youtube.com/watch?v=O4h-hrF2ObE

A palestra do Manuel Castels é a de um romântico tergiversando sobre o óbvio… mas no bom sentido. :o)

O óbvio precisa ser dito, principalmente porque um aspecto que tem me preocupado bastante é justamente a escassa disseminação de ideias de vanguarda na sociedade.

O Castels é um romântico porque diz que a sociedade está se transformando e que a internet já não é uma minoria, o mundo inteiro está conectado… e isso não é verdade, esse é um sonho romântico que ainda não é realidade. Quem me dera fosse… Se existem 3 bilhões de conectados (acho o dado exagerado), restam mais de 4 bilhões sem conexão (sem contar os clientes da Net, que às vezes têm conexão e às vezes não…!)

Falamos do mundo que está mais próximo de nós como se fosse o mundo todo, mas o mundo todo é muito mais alienado e ignorante do que gostaríamos.

O movimento de ocupação de Wall Street (e de outros lugares) teve a sua importância, mas ela é muito menor do que gostaríamos de pensar. O movimento de protesto contra “os 1%” mais ricos está mudando a mentalidade da sociedade? Talvez esteja mudando a mentalidade de 5% da sociedade, e olhe lá… E, mesmo assim, muito devagar.

As mulheres mudaram a maneira de pensar sobre si mesmas? Sim, as mulheres informadas, interessadas. Quantas são, como percentual da sociedade? Talvez sejam 50% das mulheres brasileiras que têm pelo menos o secundário completo e renda familiar superior a cinco salários mínimos (R$ 4.000,00). Ou será que estou sendo otimista?

Pois bem, as mulheres brasileiras com essa renda e escolaridade representam menos de 5% da população, segundo o IBGE! Portanto, apenas metade disso mudou de mentalidade, ou seja: 2,5%…

É que esses 2,5% representam cerca de um milhão de pessoas. Um milhão é bastante gente; e se fazem parte da “nossa” classe sócio-econômica, fazem parte do “nosso mundo”. Ficamos com a impressão de que “o mundo está mudando!”. Mas é só o “nosso” mundo… Os outros 97.5% não mudaram.

Me preocupa a ideia de que os intelectuais afluentes (como eu) vivem numa bolha e não se dão conta do quão pequena é essa bolha. Quantas pessoas assistiram à palestra do Castels via YouTube? 10.185 pessoas. O desafio é transformar isso em dez milhões.

Quanto ao conteúdo do que ele disse, me interessa a questão da busca de novas formas de representação democrática, conforme eu escrevi em 2008 no “Tire Os Seus Óculos”. Veja que em 2008 isso já não era novidade; passaram-se sete anos e pouca coisa mudou. A cultura muda, sim, mas muuuiito devagar… E as mudanças ocorrem nas cabeças da minoria informada e afluente, que segue na ilusão de que representa o mundo todo.

Por isso tudo é importante disseminar o debate, para que mais pessoas despertem para a consciência social e política, para fora dos limites da bolha intelectual afluente. Sem revolução, sem luta armada, sem radicalismo. Por evolução. Mas a evolução precisa também ser acelerada pela disseminação do debate, para sair da velocidade de lesma baiana e passar à velocidade de uma tartaruga paulistana, pelo menos…