Ouviram do Ipiranga as margens plácidas

Pois é… As margens plácidas do Ipiranga não estão mais lá; ele foi canalizado e enterrado sob toneladas de concreto, aquele concreto que impede a absorção natural das chuvas e provoca enchentes. O progresso é importante, mas pode e deve ser sustentável. Dá pra fazer isso tudo de um modo diferente e mais integrado.

De um povo heroico o brado retumbante

O brasileiro é um povo heroico, sem dúvida. Trabalha muito, luta contra a falta de infraestrutura, a falta de educação, segurança e saúde, batalha para que seus filhos tenham uma vida melhor. E o brado retumbante está aí, reverberando por toda a nação e pelo mundo. Até o Valcke (Secretário Geral da FIFA) ouviu.

E o sol da liberdade em raios fúlgidos

O sol da nossa liberdade tem, realmente, raios fúlgidos. Às vezes desaparece, encoberto por nuvens, tremula devido à poluição. Nossa liberdade tem sido fugidia: em certos períodos nos foi roubada. Quando, finalmente, elegemos governos que garantiam ser honestos (diferente dos outros) e justos para a população (diferente dos outros), o que se viu não foi diferente dos outros. Nunca antes nesse País se viu tanta corrupção e incompetência. O governo que prometeu nos libertar, jogou a polícia de choque contra um povo, com uma violência de fazer inveja a qualquer ditadura militar…

Brilhou no céu da Pátria nesse instante

O sol da liberdade está brilhando nesse instante, nas noites de Brasília, do Rio, São Paulo, Salvador, Recife, Fortaleza, Porto Alegre, Florianópolis… Mas apenas nesse instante. O que fazer para que esse sol seja perene e sustentável?

Se o penhor dessa igualdade

Mas, “de que igualdade me hablas?” Não temos igualdade no Brasil. Ela ficou na promessa do Joaquim (autor da letra do hino). Continua na promessa dos políticos e na nossa ilusão. Se queremos igualdade, ela precisa começar em casa, na família, entre marido e mulher, na maneira de tratar os filhos, na maneira de tratar quem é diferente de nós ou pensa diferente de nós. Igualdade já!

Conseguimos conquistar com braço forte

Em 1822, não houve braço forte. A independência foi um “jeitinho” luso-brasileiro, sem lutas, para garantir que o País ficasse na família, imitando o Sarney no Maranhão. O penhor da nossa igualdade ainda precisaremos conquistar com braço forte. Porém, como disse antes, a igualdade começa em casa.

Em teu seio, ó Liberdade

É ótimo estar no seio da Liberdade (os japoneses de São Paulo concordam) mas sem esquecer que a liberdade termina onde começa o direito do próximo (mais ou menos na altura da Aclimação), que merece respeito. Nada de abusar do seio da Liberdade.

Desafia o nosso peito a própria morte

Estamos vendo isso nos protestos agora: manifestantes atropelados, espancados, sujeitos a tiros (com balas de borracha e de chumbo), gás lacrimogêneo, spray de pimenta. E com o aumento da violência do Estado, aumenta o movimento desafiando a própria morte.

Ó Pátria amada, idolatrada, Salve! Salve!

Tudo por amor a essa terra. É emocionante ver o patriotismo brasileiro, a nossa terra é realmente idolatrada. Mas quem precisa salvá-la somos nós. Não adianta “delegar pra cima” para um político que se apresenta como “salvador da pátria”. O salvador é você. Não é nem Jesus, nem Maomé, nem Deus. Afinal de contas, “Deus está dentro de ti!” O salvador é você.

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido,


Somos o País do sonho, sim, adoramos sonhar e isso é muito bonito… Os sonhos inspiram e emocionam, mas precisamos também agir, se não o sonho vira pesadelo. Vamos tornar nossos sonhos realidade e sonhar novos sonhos ainda melhores.

De amor e de esperança à terra desce,

O Brasil é o País da esperança, a última que morre, a que nos permite suportar a injustiça e a iniquidade. Mas esperar cansa, também chega de esperança!
Precisamos de chegança. É hora de usar esse amor para fazer um País de verdade, de realidade.

Se em teu formoso céu, risonho e límpido,


A imagem do Cruzeiro resplandece.


O céu formoso não é mais “céu de brigadeiro”: tem poluição, tem greve de controladores aéreos, tem caos aéreo. Precisamos cuidar dos nossos céus também. Eles precisam do nosso amor e carinho, da nossa consciência ambiental, da nossa cidadania, da nossa responsabilidade. A Infraero é uma vergonha. E pra quem chegou agora: o “cruzeiro” não é a moeda falida que já tivemos, é o Cruzeiro do Sul, a constelação de estrelas que pode nos servir de guia.

Gigante pela própria natureza,


O gigante acordou, e acordou de mau humor… Agora precisamos usar esse tamanho todo e essa natureza toda para fazer um País que seja grande não apenas em tamanho geográfico, mas em valores humanos, em justiça e igualdade.

És belo, és forte, impávido colosso,


Chega de ser impávido diante da corrupção e da impunidade! Podemos fazer com que esse gigante deixe de ser belo e forte para poucos e passe a ser justo para todos.

E o teu futuro espelha essa grandeza.



O futuro fu… Deu no que tinha que dar: povo na rua, querendo mudanças já! Se a elite não entrar no bloco, vai ser imolada. Parem de se olhar no espelho, na academia, e tratem de engrossar o bloco da mudança, que a coisa vai engrossar! E os professores catedráticos universitários também: parem de se olhar no espelho, na (outra) Academia e venham praticar a teoria, que sem prática nada seria.

Terra adorada


Entre outras mil


És tu, Brasil,


Ó Pátria amada!



Sem esquecer das outras mil: o Brasil tem sido muito isolado, como povo: vamos olhar pra fora do País também. Ser a oitava economia do mundo significa assumir responsabilidades internacionais, acolher imigrantes e exportar conhecimento. Amamos o Brasil, mas não estamos isolados no mundo. Temos algo a fazer também em outros lugares para promover a paz, a justiça social e a sustentabilidade. O mundo não termina na esquina.

Dos filhos deste solo


És mãe gentil,


Pátria amada,
Brasil!

Linda e enganadora frase… O Brasil é uma mãe que tem muitos safados pendurados nas suas tetas. Essa mãe gentil tem seus pecados (e graves): passa a mão por cima da corrupção, dos crimes, da impunidade… Não somos mais crianças. Chegamos à idade do desmame. Aos quase duzentos anos, já era tempo! Vamos cuidar da nossa mãe com amor, mas agora é nossa vez de sustenta-la, ela que por tanto tempo nos sustentou. Eu saí de casa e continuo visitando a mãe Brasil com frequência, zelando por ela. Cada um precisa fazer o que pode. Está na hora de retribuir e fazer um País do jeito que nossos filhos merecem.