No Brasil, a política tem sido discutida em termos unidimensionais, ou seja: uma única dimensão que vai da esquerda à direita. Os partidos e os candidatos são percebidos como sendo “de esquerda” ou “de direita”.
Em outros lugares do mundo se adotam duas dimensões: esquerda e direita formam uma dimensão, enquanto que a segunda dimensão diz respeito a ser progressista ou conservador. Com isto, se pode mapear a posição de partidos e candidatos num quadro matricial “2 por 2”. Para dar um pouco mais de nuance, apresento uma versão “4 por 4”:
Muito de esquerda e muito progressista | Um pouco de esquerda e muito progressista | Um pouco de direita e muito progressista | Muito de direita e muito progressista |
Muito de esquerda e um pouco progressista | Um pouco de esquerda e um pouco progressista | Um pouco de direita e um pouco progressista | Muito de direita e um pouco progressista |
Muito de esquerda e um pouco conservador | Um pouco de esquerda e um pouco conservador | Um pouco de direita e um pouco conservador | Muito de direita e um pouco conservador |
Muito de esquerda e muito conservador | Um pouco de esquerda e muito conservador | Um pouco de direita e muito conservador | Muito de direita e muito conservador |
O conceito é muito interessante (embora não seja novo). Poderia ser aplicado no Brasil para melhor identificar as posições ideológicas de partidos, candidatos e eleitores. Na Holanda, que teve eleições municipais agora no dia 19 de março, o mapeamento foi feito de forma bem pragmática: fazendo 30 perguntas sobre trinta propostas práticas de ação discutidas durante a campanha política. Exemplos: (1) a prostituição deve ser declarada ilegal? (2) o aeroporto de Amsterdam deve ser privatizado? (3) o limite de velocidade nas auto-estradas deve ser aumentado?
Cada partido se posicionou em relação a cada uma das trinta perguntas (concordo plenamente, concordo em parte, sou neutro, discordo em parte e discordo totalmente) e com base nisso foi colocado no “mapa”. Um site da internet (www.kieskompas.nl) revela a resposta de cada partido a cada pergunta e permite que qualquer internauta mapeie sua própria posição política, respondendo a cada uma das perguntas e comparando suas respostas com aquelas dos candidatos.
Esse processo todo é fácil de executar. Quem se habilita a fazer o mesmo no Brasil? Seria ótimo ter algo assim como referencia para as eleições de outubro!
Para quem se interessa pelas tendências da política holandesa, que costumam ser um presságio das tendências políticas de toda a Europa, vejam a seguir o mapa dos principais partidos holandeses e o que ocorreu nas eleições municipais.
Muito de esquerda e progressistaPartido Verde | D66 | Muito de direita e muito progressista PL | |
PS |
PvdAGL | ||
UC
|
VVD | ||
Muito de esquerda e muito conservador | CDA | Muito de direita e muito conservador |
O grande vencedor foi o D66 (Democratas 66), que já foi o quinto ou sexto partido da Holanda, mas que cresceu muito nos últimos seis meses. Os eleitores querem mais progressismo levemente de direita. O grande perdedor foi o PvdA (Partido do Trabalho) que dominava as grandes cidades e viu seu lugar tomado pelo D66. Os trabalhistas perderam a prefeitura de Amsterdã e diminuíram seus assentos nas câmaras de todas as maiores cidades. O D66, por outro lado, chegou a duplicar o número de vereadores que possuía em alguns locais.
A mudança não é radical. Os partidos extremistas perderam espaço, alguns apenas conseguiram manter o pouco espaço que tinham. A mudança é de centro-esquerda para centro-direita e de levemente progressista para mais fortemente progressista. De qualquer forma, o eleitorado quer uma mudança, mas não uma mudança para o extremismo.