O uso da tecnologia não muda a cultura, mas exacerba os valores culturais já existentes. Alguns falam na “primavera árabe” como sendo “a revolução do Facebook”, mas essa é uma distorção perigosa. Perigosa porque afasta a atenção daquilo que realmente provoca e dirige os movimentos sociais: os valores e comportamentos das pessoas. Facebook, Twitter, Orkut, etc. São apenas instrumentos.

Triste é ver que as redes sociais, criadas para aproximar as pessoas, são utilizadas também para conspirar, para organizar atentados terroristas, para planejar crimes, e agora também para linchar.

O bárbaro e irresponsável assassinato do cinegrafista Santiago Andrade virou desculpa para uma guerra política entre direita e esquerda. O que é chocante para mim é ver um jornalista da Veja, Reinaldo Azevedo, acusando no seu blog uma pessoa suspeita de ser o autor do disparo de rojão que matou Santiago. As acusações são lançadas a torto e a direito sobre os possíveis mandantes do ato irresponsável, mas o mais chocante é ver um jornalista, supostamente um cidadão educado e civilizado, publicando termos como estes:

“Olhem aí. Esta é a foto de um dos assassinos do cinegrafista Santiago Andrade. A gente precisa perguntar agora para aquele funcionário do Marcelo Freixo, o candidato a santo do socialismo dos endinheirados da Zona Sul do Rio, se ele continuará a fornecer seus préstimos advocatícios para este patriota da causa popular. Caio Silva de Souza está foragido.”

Pelamordedeus, aonde vamos parar?

O tal Caio é um suspeito! Como pode um jornalista, com o respaldo que sua posição lhe dá, lançar a público uma acusação nesses termos, como se essa pessoa já tivesse sido julgada e condenada? Como pode fazer isso na internet, lançando uma acusação irresponsável que vai ser lida por centenas de milhares de pessoas? E se o tal Caio não foi quem cometeu o ato? Esse Sr. Reinaldo pode estar acusando um inocente e incentivando uma multidão a linchá-lo como vingança, por algo feito por outra pessoa!

Os comentários feitos no blog desse péssimo profissional vão de mal a pior: estimulam a violência e o linchamento popular de uma pessoa que ainda não se sabe se foi realmente culpado!

A mensagem do blog ainda liga o suspeito a um funcionário do Deputado Marcelo Freixo, de forma a evidenciar um ódio incrível. Talvez eu seja ingênuo, mas fico indignado com a facilidade com a qual um jornalista lança acusações pesadas, de forma leviana, inconsequente.

As redes sociais amplificam essas mensagens. É preciso ter responsabilidade e consciência sobre o que se escreve. Amanhã poderemos ter crimes ainda mais graves cometidos graças a esse incitamento à violência, a essa condenação precipitada de alguém que, repito, pode não ser o verdadeiro criminoso.

A massa quer um culpado, quer ver alguém pagar pelo crime ocorrido. Todavia, é preciso identificar o verdadeiro criminoso e não linchar o primeiro sujeito que é parecido com aquele que estava perto daquilo que outro viu acontecer.

Cadê a ética da imprensa? A entidade de classe dos jornalistas deveria cassar as licenças profissionais daqueles que agem dessa forma irresponsável e inconsequente. Infelizmente, há jornalistas oportunistas que aproveitam um sentimento popular de raiva e capitalizam em cima disso, apenas para ganhar audiência na TV e aumentar o número de leitores. Estão brincando com fogo, em busca de fama imediata e passageira. Estão botando fogo no circo e com isso podemos todos nos queimar. Os incendiários precisam ser denunciados e processados, antes que sejamos todos consumidos pelas chamas.