O Edifício Brasil é um condomínio que tem 60 andares e nele moram 1.000 famílias!
Os moradores estão divididos por andar, de acordo com a renda familiar: na cobertura moram os que ganham 60 SM (salários mínimos) por mês (724 x 60 = 43.440) ou mais. No primeiro andar moram as famílias com renda de 1 SM ou menos.

O primeiro andar é enorme, pois nele moram cerca de 40% dos residentes: são 400 apartamentos! Isso significa cerca de 18.00 metros quadrados (45m2 por apto), ou seja, esse andar tem um diâmetro de mais de 150 metros, o que não é pouco.

No segundo andar já moram bem menos: cerca de 32% dos residentes, ou seja 320 apartamentos, e o diâmetro é proporcionalmente menor. Vejam que nos dois primeiros andares temos 720 apartamentos de um total de 1.000. A partir daí o número de moradores (e o tamanho de cada andar) vai se reduzindo de forma mais dramática. 97% dos apartamentos (970) ficam nos dez primeiros andares, enquanto que três por cento ficam do 11º ao 60º andar.
Na verdade, 20 apartamentos ficam do 11º ao vigésimo andar (dois por andar). Nos 40 andares superiores temos apenas dez apartamentos, cada qual com dois andares ou mais. A cobertura é um verdadeiro palácio vertical, com oito andares, piscina, heliponto e espaço gourmet, onde a cozinheira é o Alex Atala. O lavabo foi projetado pelo Niemeyer.

Pesquisamos alguns aspectos dos moradores do Ed. Brasil e constatamos que em todo o prédio existem apenas 110 pessoas com diploma universitário, a maioria delas morando entre o terceiro e o vigésimo andar. 600 moradores não têm sequer o secundário completo.

Neste ano, vai haver eleição para a função de síndico do prédio e o pessoal está em polvorosa… Há três candidatos: Dona Vilma, do vigésimo andar, que é a síndica atual e quer continuar no cargo; Dona Mariana, que mora no décimo andar e quer mudar uma porção de coisas no prédio; e o “seu” Nécio, o político do 38º andar.
Esses dias o seu Nécio ficou furioso porque alguém publicou uma matéria no jornal do condomínio espinafrando a candidatura dele. Mas acontece que no prédio só 6% das pessoas lêem jornais… Só eles é que se importam com o que sai publicado, os outros nem sequer sabem! Por outro lado, 97% dos moradores assistem TV. Portanto, na eleição, o jornal vai influenciar quase nada…

E a internet? Só 47%, menos da metade dos moradores acessa a internet, sendo que no primeiro andar 78% das pessoas nunca acessa. Quer dizer: essa história de que “tá todo mundo conectado” é mais uma fantasia da elite alienada do edifício… Só vale para os andares de cima.
Visitei o Edifício Brasil e fiquei preocupado: a Dona Vilma está fazendo uma campanha de raiva contra o pessoal dos andares de cima. Quando ela conversa com as pessoas no saguão do prédio e nos elevadores, fala mal do seu Nécio e xinga todo mundo que mora do quarto andar pra cima… Ela é muito violenta.
O seu Nécio, por outro lado, é de boa paz, mineirinho, fala manso… Mas às vezes me parece que ele não escuta aquilo que o pessoal do primeiro e do segundo andar pede pra fazer no prédio: querem uma creche pra deixar os filhos enquanto vão pro trabalho, um posto de saúde (afinal, são 1.000 famílias no edifício…) uma escolinha. Ao invés disso, ele fala em colocar um elevador mais rápido; isso só interessa quem mora nos andares de cima!
Me preocupa essa diferença de foco: a Dona Vilma, instigando o ódio dos andares de baixo contra os de cima; o seu Nécio, alienado das necessidades do pessoal dos primeiros andares. Isso não vai dar certo!

A Dona Mariana, por outro lado, fala em fazer mudanças mas tenta agradar uns e outros, no fim não vai agradar ninguém… Disse que vai botar uma capela do lado da portaria: isso dividiu os moradores, já tem gente que adorou e gente que detestou!

Isso tudo é ruim, pois alguns já estão falando até em mudar pra outro prédio, por causa dos bate-bocas entre quem apoia o seu Nécio, a Dona Vilma ou a Dona Mariana. Uma pena, pois o Edifício Brasil é tão lindo… Tá meio desgastado, precisando de uma boa reforma, mas justamente sobre isso nenhum dos candidatos fala!