O Edifício Brasil é um condomínio que tem 60 andares e nele moram 1.000 famílias!

Os moradores estão divididos por andar, de acordo com a renda familiar: na cobertura moram os que ganham 60 SM (salários mínimos) por mês (724 x 60 = 43.440) ou mais. No primeiro andar moram as famílias com renda de 1 SM ou menos.

O primeiro andar é enorme, pois nele moram cerca de 40% dos residentes: são 400 apartamentos! No segundo andar já moram bem menos: cerca de 32% dos residentes, ou seja 320 apartamentos Vejam que nos dois primeiros andares temos 720 apartamentos de um total de 1.000. A partir daí o número de moradores (vai se reduzindo de forma mais dramática. 97% dos apartamentos (970) ficam nos dez primeiros andares, enquanto que três por cento ficam do 11º ao 60º andar.

Neste ano, vai haver eleição para síndico do prédio e há três candidatos: Dona Vilma, Dona Mariana, e o “seu” Nécio, o político do 38º andar. Tem muita gente insatisfeita no prédio e muitos falando em sair e ir morar noutro edifício. Resolvi dar uma olhada nos outros e comparar.

Uma das queixas mais frequentes dos moradores é sobre o condomínio. Quer dizer, só se queixa quem mora do quarto andar pra cima, pois só eles pagam condomínio. Quem mora do terceiro andar pra baixo (ganha 3SM ou menos) não paga condomínio e esses são 82% dos moradores. Os 18% que pagam condomínio se queixam que o preço é muito alto. A fórmula é meio complicada, o valor vai subindo de acordo com a renda, mas o máximo é 27.5% para quem mora do sexto andar para cima.

Como havia muitas queixas, fui visitar dois outros edifícios para ver como são as coisas por lá. Comecei pelo Edifício Estados Unidos, que é bem maior (moram 1.500 famílias). Descobri que lá todo mundo se queixa do condomínio também e o máximo é 39,6%. Mas só paga o máximo quem mora do 40º andar para cima. A partir do 8º andar, as pessoas pagam os 28% (no Brasil era a partir do sexto), mas o valor vai subindo. Ainda por cima, paga condomínio todo mundo que mora a partir do segundo andar. No Edifício Estados Unidos, isso significa que 92% dos moradores pagam condomínio, só 8% não pagam. Ou seja, quase todo mundo paga e ainda pagam mais caro… Não dá para usar esse edifício como argumento para reduzir o condomínio do Edifício Brasil.

Decidi procurar um outro edifício e encontrei um edifício bem diferente, o Edifício Holanda. Me chamou a atenção porque estava em obras de reforma, estavam pintando a fachada. Fui conversar com um morador que estava chegando e descobri muitas coisas interessantes.

Esse edifício é muito menor do que os outros dois: só tem 150 famílias, um décimo do tamanho do que eu acabara de visitar. O condomínio era bem mais caro: o máximo era 55% e isso já valia a partir do quinto andar! Só o pessoal do primeiro andar não pagava, todos os outros pagavam. Ao todo, 95% dos moradores pagavam condomínio e valores mais altos do que nos outros dois prédios. No entanto, pouca gente se queixava… o prédio tinha boa manutenção. Não era muito enfeitado, parecia mais simples, e não tinha aquela cobertura luxuosa do Edifício Brasil, com heliponto, piscina olímpica e elevador exclusivo com anúncio dos andares em gravação feita pelo Roberto Carlos. Nada disso, no Edifício Holanda tudo era mais simples e discreto, isso que lá morava uma princesa argentina… Apesar da princesa, não tinha ostentação. Aliás, não tinha nem porteiro, só porteiro eletrônico: era tudo automatizado e funcionava direitinho, mas sem firulas. Os apartamentos eram todos menores do que os outros prédios, mas custavam até mais caro, além do condomínio. Tinha poucas vagas para automóvel na garagem, mas tinha uma garagem especial só para bicicletas e todo mundo no edifício usava bicicleta diariamente, para ir ao trabalho, fazer compras… Não só para passear no domingo. Prédio estranho, esse… Pagavam mais caro por apartamentos menores, todo mundo pagava condomínio e os valores eram até o dobro daquilo que pagavam no Edifício Brasil.

É… Cheguei à conclusão que o pessoal do Edifício Brasil tem que pensar duas vezes antes de mudar de prédio!