“Difícil é caminhar sobre o fio da navalha” (Krishnamurti) e está ficando cada vez mais difícil…

Desde os idos de 1992, me declarei um “PTcano”: uma cruza de Petista com Tucano. Sempre achei que PT e PSDB deveriam se unir, para lutar juntos contra a direita, ao invés de se afastar… As propostas eram muito parecidas e a união seria mutuamente benéfica: o PSDB ganharia alguns políticos qualificados e uma proximidade maior com os operários; o PT ganharia muitos políticos qualificados, para melhorar os seus quadros, que eram bem menos qualificados, sinceramente.

Infelizmente, como dizia o Roberto Freire (e muitos outros), “a esquerda só se une na cadeia”… A desunião da esquerda vingou e os partidos se afastaram. Passei a apanhar dos dois lados: meus amigos petistas e tucanos se xingando e eu pegando o fogo cruzado.

Inicialmente, o PSDB, que sempre foi um partido relativamente pequeno, precisou fazer acordos com outros, para se eleger e para governar. Diante da recusa do PT, se aliou ao PFL, o que considero um erro histórico. Ao fazer isso, alienou ainda mais o PT e deu ao mesmo, de bandeja, a desculpa de xingar o PSDB de “direita”, mesmo que o PSDB continuasse com uma postura de centro-esquerda.

“Fast-forward” para 2002 e o que acontece? Ao eleger Lula presidente, o PT faz alianças com o PL (!?) que era mais conservador e mais “direita” do que o próprio PFL… e em seguida o PT faz alianças com Quércia (!!!???) e depois com Paulo Maluf (!!!!!!??????)… Virou gandaia.

Não admira que muitos idealistas do PT saíram para PSB, PSOL, Rede, etc.

E no meio disso, acho curioso como o PT enche a boca ainda até hoje para dizer que é “a” alternativa de projetos sociais para o Brasil, negando tudo o que o PSDB fez e faz nesse sentido… E negando os demais partidos de esquerda que rejeitam os acordos fisiológicos.

Por outro lado, vejo que o PSDB de hoje já não é, também, o mesmo que eu admirava em 92… Mário Covas se foi e FHC ficou hoje como figura honorária, ele não é o PSDB de 2014.

Não consigo apoiar Aécio Neves como candidato, embora acredite que o melhor para o Brasil nesse momento fosse a Dilma não se reeleger. Seria bom ter pelo menos uma máfia diferente em Brasília, ao invés da máfia atual… Na troca de máfias, os verdadeiros cidadãos talvez tivessem mais chance de influir.

Vamos ver o que acontecerá no domingo, um verdadeiro plebiscito do tipo “o PT deve continuar, ou não?”. Com tanto marketing eleitoral, fico desencantado com o processo todo: não vejo nem a Dilma e nem o Aécio falando nos debates, vejo os marqueteiros por trás deles, doutrinando-os para dizer isso e não aquilo, etc. Triste.

Estamos involuindo para ter uma democracia tão falsa quanto a americana.

Me resta a ideia de que a eleição, qualquer que seja o resultado, não é uma coisa definitiva: a democracia se exerce entre uma eleição e outra, no debate de propostas e na mobilização das pessoas e das organizações para construir um país mais justo, apesar da corrupção dos nossos governos desde Brasília até os municípios. O futuro do Brasil será definido pela ação de quem não está no governo, pela ação política que transcende o nosso vergonhoso Congresso Nacional.

De minha parte, continuarei a lutar por justiça social com bom senso, por uma “terceira via” que evite a estatização ditatorial, de um lado, e o capitalismo selvagem, no extremo oposto. E vamos em frente, porque o País não vai acabar no domingo… Segunda-feira há muito o que fazer, apesar da Dilma ou do Aécio!